O papel do solo na geração de créditos de carbono
O solo cumpre um papel fundamental para o sucesso da geração de créditos de carbono na agricultura. Apesar da sua importância, o sequestro de carbono no solo é um processo lento que depende de fatores internos e externos; as entradas de carbono, o clima e a atividade microbiana são exemplos. Além disso, o SOLO é um sistema complexo, onde diferentes reações acontecem o tempo todo e a liberação do carbono a partir da decomposição pelos microrganismos e o sequestro no solo em formas não lábeis pode levar muito tempo. Em alguns solos, o sequestro de carbono é bastante expressivo em curto tempo, mas também é uma mudança que somente pode ser perceptível e duradoura com o passar do tempo.
Como cada solo possui particularidades especificas, é importante conhecer as características inerentes relacionadas ao potencial de sequestro de carbono e de mitigação das mudanças climáticas. Sabemos que o solo possui mais carbono do que a vegetação e a atmosfera juntas, mas cada tipo de solo pode ter um potencial de sequestro de carbono diferente, alguns mais outros menos. Um dos fatores principais que determinam o potencial do solo de sequestrar carbono é a textura. Solos mais argilosos tendem a sequestrar mais carbono tanto pela presença de minerais específicos que formam complexos organo-minerais com a matéria orgânica quanto pelas cargas reativas e a maior superfície específica. O clima também é outro fator importante, que está diretamente relacionado à velocidade de decomposição da matéria orgânica. Solos de clima temperado possuem maior estoque de carbono devido a que as temperaturas baixas não promovem a atividade microbiana que irá favorecer uma rápida decomposição, situação típica de solos tropicais, que naturalmente possuem um menor estoque de carbono.
Em um projeto de geração de créditos, o estoque de carbono é o atributo principal que deve ser medido. Ele é geralmente expresso em massa por área (toneladas por hectare t C ha-1, megagrama por hectare Mg C ha-1 ou gramas por metro quadrado g m-2) e deve ser medido antes do início do projeto para conhecer a linha de base (também chamado de ‘business as usual’, ou seja, a prática comum anterior a adoção de práticas conservacionistas). Uma parte importante do processo de medição é conhecer e entender como o solo varia na paisagem, para ter certeza de que esta variação vai ser representada pela medida do estoque obtida. Antes de qualquer mensuração, o processo deve considerar a estratificação da área em zonas o mais homogêneas possíveis. Dentro de cada uma destas áreas, pontos amostragem de solos são alocados aleatoriamente com o intuito de representar a variabilidade do estoque de carbono. Mas como é feita esta estratificação e alocação de pontos de coleta? Existem várias formas de estratificar uma área, geralmente fazendo uso de dados auxiliares que possam proporcionar informações sobre a variação da paisagem. Imagens de satélite e índices espectrais, mapas legados do solo, modelos digitais de elevação e atributos da paisagem são as variáveis ambientais mais utilizadas para a estratificação do solo. As técnicas utilizadas para estratificar o solo também são várias e este estudo apresenta um resumo de cada uma delas, ressaltando as vantagens e desvantagens. Não existe uma única técnica que tenha sido recomendada como a melhor, mas algumas delas possuem mais vantagens. O importante é utilizar as melhores informações disponíveis em alta resolução, para que seja possível capturar a variabilidade do solo.
Após a estratificação do solo, o passo seguinte é alocar os pontos de coleta dentro de cada estrato ou zona homogênea. Assim como a estratificação, não existe uma única forma de alocar os pontos de coleta, mas se houver dados legados do estoque de carbono de anos anteriores, é possível utilizar a fórmula de Cochran (1977) para ter uma ideia do número aproximado de pontos de coleta. Esta fórmula considera uma população finita, o desvio padrão do estoque de carbono, o nível de confiança e a margem de erro. Na esmagadora maioria dos casos, não existem dados legados de estoque de carbono, então a alocação se baseia no conhecimento da área e sobretudo no orçamento disponível para a amostragem de solo. Nos projetos de carbono, a construção da linha de base a partir da amostragem de solo e análise do estoque de carbono nos laboratórios, constitui a parte mais onerosa de todo o projeto. É por isso que muitas das pesquisas acadêmicas buscam melhores estratégias para diminuir o número de pontos de coleta, ou para predizer o estoque de carbono a partir de tecnologias emergentes como por exemplo, o sensoriamento remoto e proximal com o uso de imagens de satélite e sensores de campo e o uso de estatísticas avançadas como o machine e deep learning para obter estimativas acertadas do estoque de carbono no solo. Estas técnicas, inclusive, estão sendo consideradas como opções válidas pela verificadora Verra (veja o Apêndice 4 da revisão da VM0042). No futuro, a estratégia será a utilização de um processo híbrido, com parte das amostras ainda sendo analisadas por métodos tradicionais e outra parte via sensores. Mas para que isso seja possível, mais pesquisas orientadas a entender a variabilidade do solo devem ser conduzidas.
Engenheira Agrônoma, Dra. em Solos e Nutrição de Plantas